Arquivo da categoria: Metabologia

10 Mensagens da Diretriz sobre Distúrbios do Colesterol da SBC

Saiu recentemente a nova Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose – 2025 da Sociedade Brasileira de Cardiologia.

As recomendações são para evitar o entupimento das artérias (infarto, derrame etc.), que chamamos de aterosclerose.

Reproduzindo aqui um post do Instagram.

Eis o link para calculadora PREVENT : https://professional.heart.org/en/guidelines-and-statements/prevent-calculator

Um pouco sobre a classe de PSCK9 tem nesse post:

Essas mensagens são recomendações de especialistas baseadas nas evidências científicas atuais.

No consultório, as evidências científicas e diretrizes são ajustadas conforme a preferência do paciente e a experiência profissional do médico, os três pilares da boa e velha medicina baseada em evidência.

Referência

RACHED, F. H.; MINAME, M. H.; ROCHA, V. Z.; ZIMERMAN, A. et al. Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose – 2025. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, v.122, n. 9, p. –, DOI: 10.36660/abc.20250640. Disponível em: https://abccardiol.org/article/diretriz-brasileira-de-dislipidemias-e-prevencao-da-aterosclerose-2025/.

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Diabetes tipo 5: a reclassificação do diabetes ligado à desnutrição

O diabetes tipo 5 é novidade, mas nem tanto assim. Esse ano é que veio essa nova nomenclatura, proposta durante um encontro de consenso em Vellore, Índia, em janeiro de 2025, e formalizada pela Federação Internacional de Diabetes (IDF) em seu Congresso Mundial de Diabetes em abril de 2025.

Historicamente, esta condição era referida como diabetes relacionado à desnutrição, tendo sido formalmente classificada pela OMS em 1985, embora essa classificação tenha sido removida em 1999, entretanto, essa classificação ainda persiste na Classificação Internacional de Doenças (CID) sob o código E12.

Esta classificação descreve uma forma distinta de diabetes observada em indivíduos magros com um histórico de subnutrição

Os critérios diagnósticos e as características clínicas do DM5 são fundamentais para diferenciá-lo do diabetes tipo 1 (DM1) e do diabetes tipo 2 (DM2), especialmente em países de baixa e média renda onde a prevalência é significativa. Estima-se que 25 milhões de pessoas tenham essa forma de diabetes globalmente.

Apesar do Brasil estar atualmente fora do mapa da fome mundial, sabemos que nos rincões do país, ou não tão longe, temos mães e crianças subnutridas.

Para esse tipo de diabetes, a fisiopatologia é multifatorial e não totalmente conhecida.

Agora, vamos ver os principais pontos da recente publicação no Lancet sobre esse tema.

Diagnóstico

Embora não sejam universalmente presentes em todos os pacientes, as seguintes características ajudam a distinguir o DM5 e apoiam o diagnóstico, sendo frequentemente relatadas:

Características Comumente Reportadas

  1. IMC (Índice de Massa Corporal) inferior a <18,5 kg/m2 para adultos*
  2. Hiperglicemia moderada a grave
  3. Baixas concentrações de peptídeo C em jejum ou em estado aleatório, ou baixa insulina sérica
  4. Resistência à cetose
  5. Negativo para sinais clínicos de resistência à insulina (ex: acantosis nigricans/acantose nigricante)
  6. Negativo para o anticorpo GAD-65 (e anticorpos IA-2 e ZnT8, se disponíveis)

Características Ocasionalmente Reportadas

1.Histórico de subnutrição na vida precoce, evidenciado por um ou mais dos seguintes:

  • Histórico de baixo peso ao nascer
  • Histórico de subnutrição na infância
  • Histórico de nanismo/atraso de crescimento na infância

2.Um histórico de subnutrição na vida precoce (intrauterina, infância, primeira e segunda infância, e adolescência), conforme demonstrado por:

  • IMC inferior a -3 DP para a idade de 5 a 19 anos*
  • IMC inferior a -3 DP para a idade de 5 a 19 anos*

3. Pâncreas normal em exames de imagem pancreática abrangentes (ultrassonografia ou, preferencialmente, tomografia computadorizada)

4. Baixa porcentagem de gordura corporal total densitometria de corpo inteiro ou análise de bioimpedância

5. Estudos monogênicos de células beta negativos para variantes genéticas

6. Baixo nível socioeconômico

7. Origem rural

*Embora esta declaração de consenso proponha pontos de corte para IMCs e o diagnóstico de subnutrição, mais pesquisas são necessárias para estabelecer valores de corte específicos para o diagnóstico de subnutrição associada ao diabetes tipo 5.

Implicações e Necessidade de Diferenciação

O reconhecimento destas características é crucial. O fenótipo do DM5 deve ser diferenciado de outras formas atípicas, como DM1 com autoanticorpos negativos ou DM2} em indivíduos que perderam peso devido à hiperglicemia descontrolada. O diagnóstico incorreto, especialmente como DM1, pode levar à hipoglicemia iatrogênica grave devido à administração de grandes quantidades de insulina que o paciente magro subnutrido pode não necessitar.

Os indivíduos com DM5 podem precisar apenas de quantidades mínimas de insulina ou abordagens alternativas para estimular a secreção de insulina para o controle da glicemia.

Nos pacientes que ganharam muito peso posteriormente na vida adulta, a resistência à insulina pode surgir e o tratamento será semelhante ao diabetes tipo 2. (Fig 1)

Figura 1. Desenvolvimento do diabetes tipo 5 e evolução na vida adulta conforme oferta de calorias. Modificado de Ref 1.

Considerações finais

Esse novo tipo de diabetes já é um velho conhecido dos médicos de algumas décadas de atendimento. A medicina e a endocrinologia haviam deixado, aparentemente, esse tipo de diabetes de lado, mas ele sempre esteve presente. A partir de agora, é importante reconhecê-lo para um tratamento adequado.

Possivelmente, os endocrinologistas de adulto deverão perguntar mais ativamente sobre as condições de nascimento e primeira infância do paciente com diabetes.

Em relação ao tratamento, não tem medicações novas. Já falando da prevenção, esse é mais um desafio de governos locais e globais para erradicação da fome no mundo. Tarefa nada fácil, não é?

Referência

1.            Wadivkar P, Jebasingh F, Thomas N, Yajnik CS, Vaag AA, Kibirige D, et al. Classifying a distinct form of diabetes in lean individuals with a history of undernutrition: an international consensus statement. The Lancet Global Health. 2025;13(10):e1771–e6.

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Estudos que comparam a Tirzepatida com a Semaglutida

A tirzepatida e a semaglutida são as medicações administradas em canetas no tecido subcutâneo que são aprovadas para obesidade e diabetes. Como já comentado em outro post, sobre os hormônios intestinais, a tirzepatida é um análogo dual de GLP1 e GIP, enquanto a semaglutida é só um análogo de GLP1.

Elas podem vir com diferentes nomes comerciais e são popularmente conhecidas como “canetas emagrecedoras”.

A semaglutida com apresentação aprovada para diabetes tipo 2 vai até 1,0mg e tem o nome de Ozempic ®.

A mesma molécula, semaglutida, aprovada para o tratamento de obesidade vai até 2,4mg e está sob o nome comercial do Wegovy ®.

A tirzepatida que chegou no Brasil foi aprovada apenas para o uso em diabetes tipo 2. O nome comercial é o Mounjaro® e vai até a dose de 5,0mg.

Não sabemos se a apresentação da tirzepatida para o tratamento da obesidade virá com o mesmo nome, mas deve vir com apresentações até 15mg.

Bem, houve 2 estudos comparando a tirzepatida (Mounjaro®) com a Semaglutida (Ozempic® e Wegovy®).

Comparação entre tirzepatida e semaglutida no diabetes tipo 2

O primeiro foi o SURPASS-2. Esse estudo durou 40 semanas e envolveu 1878 pessoas com sobrepeso e diabetes tipo 2 em uso apenas de metformina.

O principal objetivo do estudo foi ver melhora do controle glicêmico. O objetivo secundário foi ver a perda de peso nessas pessoas.

Todas as apresentações da tirzepatida (até 15mg do Mounjaro®) foram comparados com a semaglutida de 1,0mg (Ozempic®).

O resultado foi que todas as apresentações da tirzepatida foram superiores à Semaglutida de 1,0mg no controle do diabetes e na perda de peso.

Figura 1. Resultado de melhora do controle glicêmico com tirzepatida e semaglutida (desfecho primário). Ref 1.

A dose de 5mg da tirzepatida (Moujaro) conseguiu reduzir a 7,0% a Hb glicada em 82% comparados a 79% no grupo da semaglutida (Ozempic®). 86% dos pacientes com a dose de 15mg conseguiram chegar nesse alvo. A hemoglobina glicada média de início era 8,3%).

Em relação ao peso, após 40 semanas, temos os seguintes resultados:

A semaglutida de 1mg reduziu 6,7% do peso inicial, a tirzepatida 5mg reduziu 8,5% e tirzepatida de 15mg em 13,1% do peso inicial dos pacientes. O IMC inicial médio foi de 33kg/m2. A perda de peso ainda foi significativamente maior nos pacientes com qualquer apresentação da tirzepatida em comparação como a semaglutida.

Figura 2. Resultado quanto à perda de peso e lípides da tirzepatida e semaglutida (desfecho secundário). Ref 1.

Aqui, eu estou incluindo a apresentação de 5mg que é o que temos no momento disponível no mercado brasileiro.

Comparação entre tirzepatida e semaglutida na obesidade

Mas como foi a comparação da tirzepatida com a semaglutida em doses maiores de semaglutida para obesidade?

Essa resposta foi dada pelo estudo que saiu recentemente, o SURMOUNT 5, que comparou as máximas doses toleradas de tirzepatida (até 10 – 15mg) e semaglutida (até 1,7 – 2,4mg), cujo nome comercial seria o Wegovy.

O estudo foi até 72 semanas e incluiu cerca de 700 pessoas com sobrepeso com comorbidades ou obesidade, mas sem diabetes. O IMC inicial médio foi de 39 kg/m2.

O objetivo principal foi avaliar a porcentagem de peso perdida.

Como foram os resultados?

A dose de tirzepatida de 10 ou 15mg – reduziu em 20,2% o peso das pessoas comparado ao início do estudo, enquanto a dose de semaglutida de 1,7 ou 2,4mg, reduziu 13,7%. A tirzepatida também foi superior à semaglutida em reduzir a circunferência de cintura.

Figura 3. Redução do peso e circunferência de cintura. Comparação entre tirzepatida e semaglutida (doses máximas toleradas). Ref. 2.

E a dose de 5mg de tirzepatida, quanto reduziu? Não sabemos, provavelmente menos. Essa dose não foi testada.

O interessante desse estudo é que mulheres responderam melhor ao tratamento que homens.


Em relação aos eventos adversos, que são principalmente náusea, vômito, constipação ou diarreia, eles foram considerados na maioria leve a moderados e semelhantes nos grupos da tirzepatida e semaglutida. Entretanto, mais pessoas no grupo da semaglutida descontinuaram o tratamento devido aos efeitos colaterais da medicação.

Figura 4. Prevalência de efeitos colaterais da tirzepatida e semaglutida. Ref 2.

O que podemos concluir?


Que a tirzepatida (Mounjaro®) na dose de 5mg até 15mg é superior à semaglutida (Ozempic®) em controlar o diabetes e para perda de peso em pessoas com sobrepeso e diabetes tipo 2.

Que a tirzepatida (Moujaro®) na dose de 10 ou 15mg é superior à 1,7 ou 2,4mg de semaglutida (Wegovy®) para pacientes com sobrepeso e obesidade na redução do peso.

A pergunta que fica é:

Como seria a dose de 5mg de tirzepatida (Mounjaro®) contra a 1,7 a 2,4mg de semaglutida (Wegovy), já que são essas duas medicações que temos disponíveis nas drogarias. O valor pago por uma quantidade semelhante de perda de peso seria o mesmo ou ainda teremos um melhor custo-benefício do Moujaro sobre o Wegovy?

Qual o palpite de vocês?

Referências

Frías JP, Davies MJ, Rosenstock J, Pérez Manghi FC, Fernández Landó L, Bergman BK, Liu B, Cui X, Brown K; SURPASS-2 Investigators. Tirzepatide versus Semaglutide Once Weekly in Patients with Type 2 Diabetes. N Engl J Med. 2021 Aug 5;385(6):503-515. doi: 10.1056/NEJMoa2107519. Epub 2021 Jun 25. PMID: 34170647.

Aronne LJ, Horn DB, le Roux CW, Ho W, Falcon BL, Gomez Valderas E, Das S, Lee CJ, Glass LC, Senyucel C, Dunn JP; SURMOUNT-5 Trial Investigators. Tirzepatide as Compared with Semaglutide for the Treatment of Obesity. N Engl J Med. 2025 May 11. doi: 10.1056/NEJMoa2416394. Epub ahead of print. PMID: 40353578.

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