Dando sequência ao assunto dos tumores hipofisários, iniciado em um post recente, vamos falar um pouco mais de um tipo de tumor que não produz nenhum tipo de hormônio, o tumor ou adenoma hipofisário não funcionante (ou não produtor). É o segundo tumor mais comum, representa de 15 – 55% dos adenomas hipofisários. Ele tem origem na célula nula ou nos gonadotrofos, corticotrofos ou somatotrofos silentes.
Muitas lesões que se apresentam como massas selares não secretoras são na sua maioria adenomas de linhagem das gonadotrofinas (que estimulam testículos e ovários), mas os hormônios no sangue não são elevados e não levam a uma síndrome específica. O verdadeiro adenoma hipofisário não funcionante seria o constituído por células nulas. O tipo de célula é descoberto depois da cirurgia por uma técnica chamada imuno-histoquímica.
O grande problema do adenoma hipofisário não secretor é que ele pode crescer muito no compartimento fechado e limitado onde fica a hipófise (sela túrcica) e destruir as outras células secretoras normais da glândula ao seu redor, causando várias deficiências hormonais (panhipopituitarismo).
Há uma possibilidade dos tumores não secretores sejam acompanhados por aumento de prolactina. Não que esses tumores sejam prolactinomas, mas o tumor pressiona a haste da hipofisária, bloqueando a passagem da dopamina hipotalâmica, que é o neurotransmissor que inibe a prolactina. Portanto, a falta de inibição da prolactina pela dopamina por esse bloqueio causa o que chamamos hiperprolactinemia de desconexão (do hipotálamo com a hipófise pelo tumor).
Quadro clínico dos adenomas não funcionantes da hipófise
Uma vez que o adenoma não produtor não secreta nenhum hormônio na circulação ou leva uma inibição paradoxal do eixo que estimula os testículos ou os ovários (eixo gonadotrófico), o quadro clínico vai decorrer dos efeitos locais do crescimento do tumor e lesão das estruturas vizinhas, tais como compressão do nervo ótico e hipogonadismo (em 2/3 dos pacientes). Muito raramente, os níveis de gonadotrofinas são elevados, resultando em uma síndrome de hiperestimulação ovariana ou aumento do volume testicular.
Quando mais de um tipo de célula ou setor hipofisário é destruído, temos o quando de pan-hipopituitarismo. O quadro clínico vai depender de que tipo de hormônio está deficiente.
Pode ser que também esses tumores sejam detectados ao acaso em exames feitos para investigar outro sintoma, por exemplo cefaléia. A descoberta de tumor ao acaso chamamos de incidentaloma.
Aproximadamente 10% dos pacientes com adenomas não secretores se apresentam com apoplexia, que é uma hemorragia interna do tumor. Esse quadro é uma emergência clínica e se apresenta com quadro de início agudo de dor por trás do olho (retroorbitária), desmaios (alteração do nível de consciência), oftalmoplegia (disfunção da musculatura dos olhos) e perda da visão.
Tratamento dos adenomas não funcionantes da hipófise
Nem todos os tumores que aparecem na região onde fica a hipófise são dessa glândula. Existem outras possibilidades, como cistos, infecções, inflamações e até tumores de outros tipos de célula.

O tratamento é geralmente cirúrgico para os macroadenomas. Na maioria das vezes, o tumor é retirado pelo nariz, passa pelo osso esfenoide e por isso é conhecida como cirurgia transesfenoidal. A retirada completa do tumor é possível em 65% dos pacientes com restauração da visão em 80% dos pacientes com hipopituitarismo, revertido em aproximadamente 50%.
As diretrizes recomendam seguimento com ressonância magnética periódica, avaliação visual e teste de função hipofisária de tempos em tempos, conforme cada caso. Abaixo, um quadro com a investigação inicial e sugestão de tratamento conforme o tamanho do tumor.

Considerações finais
Os tumores na região da hipófise podem ser de diversas naturezas. O tumor mais comum é o prolactinoma, seguido pelo adenoma hipofisário não funcionante. O tratamento desses últimos é geralmente cirúrgico nos casos de tumores maiores. Em tumores pequenos, menores que 10mm, é possível apenas a observação através de exames de imagem.
O endocrinologista avalia a produção dos hormônios nos adenomas hipofisários e faz o acompanhamento nos casos em que a cirurgia não é necessária. Nos casos cirúrgicos, a equipe médica deve incluir um endocrinologista e um neurocirurgião.
Referência
Melmed S. Pituitary-Tumor Endocrinopathies. N Engl J Med. 2020 Mar 5;382(10):937-950. doi: 10.1056/NEJMra1810772. PMID: 32130815.
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