Do metabolismo da vitamina D ao tratamento nas deficiências de suas diversas formas

O termo vitamina D (calciferol) se refere a dois compostos: vitamina D2 (ergocalciferol) e D3 (colecalciferol).

A vitamina D3 é produzida pela pele quando seu precursor, o 7-dehidrocolesterol ou pró-D3, sofre ação dos raios ultravioletas B, seja pelo sol ou artificial. A pré-vitamina D se transforma espontaneamente em vitamina D3 (colecalciferol).

Após ser produzida pela pele, a vitamina D3 passa por uma reação no fígado onde recebe a primeira hidroxilação formando a 25(OH)D3 25hidroxivitaina D ou calcidiol (também conhecido por calcifediol). A 25(OH)D3 é representa a reserva de vitamina D no organismo, é a forma mais comumente dosada nos exames laboratoriais.

Uma segunda reação acontece no rim, quando a 25(OH)D recebe mais uma hidroxila para se transformar na sua forma ativa: a 1,25(OH)2D3 1,25 dihidroxivitamina D ou calcitriol, ou ser na forma inativa 24,25(OH)2D.

Metabolismo da vitamina D

Além da exposição solar, a vitamina D pode ser obtida pela ingestão de alimentos de origem animal, principalmente peixes gordurosos de água fria como atum e salmão. Outra fonte dietética de vitamina D é o ergosterol (vitamina D2), proveniente de alimentos vegetais, em especial fungos.

No metabolismo da vitamina D, quando qualquer um dos processos está deficiente, como a baixa exposição aos raios ultravioletas, doenças do fígado ou doenças do rim, resulta em diminuição da ação da vitamina D e consequente alteração nas concentrações de cálcio e fósforo no sangue, fundamentais para:
– Processos metabólicos
– Saúde óssea
– Função neuromuscular

Além da pele, fígado e rim, uma outra glândula, a paratiroide, atua no metabolismo do cálcio e fósforo pela produção do paratormônio (PTH). As paratiroides estão anatomicamente juntas à glândula tiroide, mas têm sua função é totalmente diferente: o PTH produzido por elas estimula a transformação do 25(OH)D para 1,25(OH)2D.

Níveis baixo de 1,25(OH)2D (calcitriol) decorrentes da deficiência de vitamina D ou doença renal podem aumentar os níveis de PTH, levando a uma maior reabsorção de cálcio nos ossos para manter os níveis normais no sangue, condição denominada hiperparatiroidismo.

Como na maioria das vezes, a deficiência de vitamina D é devida à produção insuficiente pela pele, a reposição de colecalciferol pode ser necessária para restaurar os níveis de vitamina D.

Nos casos de doença renal, como não há transformação da vitamina D em sua forma ativa, ou também nos casos de deficiência do PTH (hipoparatireoidismo), a forma ativa da vitamina D (calcitriol) deve ser administrada.

A deficiência da vitamina D têm função bem definida no metabolismo do cálcio e ósseo. Quadro de deficiência ou resistência à ação da vitamina D podem levar a quadro de baixos níveis de cálcio, causando defeitos na mineralização de cartilagem e ossos, doenças conhecidas respectivamente como raquitismo e osteomalácia.

Muito se tem discutido se a vitamina D teria outros efeitos na prevenção de diversos tipos de câncer, doenças cardiovasculares e autoimunes, ainda com resultados controversos na literatura científica, podendo ser não a causa, mas a consequência dessas doenças.

Até fim de fevereiro de 2023, cerca e 3800 artigos de revisão foram publicados no Pubmed. Desses, destaco da Nature Reviews que tem como pontos princiapais (1):

  • A suplementação de cálcio e vitamina D pode curar raquitismo nutricional e pode diminuir de forma modesta o risco de fraturas maiores em idosos com deficiência de vitamina D ou pouca ingesta de cálcio.
  • Grandes trabalhos que suplementaram a vitamina D em adultos (valores de 250HD > 20ng/mL) não mostraram melhora na incidência de câncer, eventos cardiovasculares ou diabetes tipo 2 e nenhum benefício em termos de densidade mineral óssea e risco de quedas.
  • Análise post-hoc de grandes estudos de suplementação de vitamina D sugerem a suplementação de vitamina D retarda de forma modesta a perda óssea relacionada à idade e a progressão para diabetes tipo 2 e melhora a função pulmonar.
  • Uma metanálise sugere que a suplementação de vitamina D resulta em pequena redução da mortalidade por câncer.
  • Mais de 60 estudos mendelianos que examinaram a relação causal entre baixos níveis vitamina D geneticamente determinados e desfechos de saude; a maioria desses estudos tiveram efeitos nulos, exceto quatro estudos que demostraram um aumento de risco de esclerose múltipla
  • Em conclusão, suplementar vitamina D em pacientes sem deficiência não adiciona benefícios à saúde geral, entretanto, a correção em pacientes com deficiência de vitamina D grave permanece essencial.

Outro ponto controverso e ainda sem resposta definitiva é a quantidade de exposição solar que é segura para os casos de deficiência de vitamina D sem que haja aumento do risco de câncer de pele.

Enquanto não há respostas para tais questões, os níveis de vitamina D devem ser avaliados em pacientes de risco para fraturas, principalmente em pacientes com osteoporose ou condições que levem ao risco de fratura óssea. A reposição de vitamina D deve ser individualizada.

Referências

  1. Bouillon R, Manousaki D, Rosen C, Trajanoska K, Rivadeneira F, Richards JB. The health effects of vitamin D supplementation: evidence from human studies. Nat Rev Endocrinol. 2022 Feb;18(2):96-110. doi: 10.1038/s41574-021-00593-z. Epub 2021 Nov 23. PMID: 34815552; PMCID: PMC8609267
  2. Bouillon R, Marcocci C, Carmeliet G, Bikle D, White JH, Dawson-Hughes B, Lips P, Munns CF, Lazaretti-Castro M, Giustina A, Bilezikian J. Skeletal and Extraskeletal Actions of Vitamin D: Current Evidence and Outstanding Questions. Endocr Rev. 2019 Aug 1;40(4):1109-1151. doi: 10.1210/er.2018-00126. PMID: 30321335; PMCID: PMC6626501.
  3. Recomendações da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) para o diagnóstico e tratamento da hipovitaminose D. https://doi.org/10.1590/0004-2730000003388

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