Uma visão feminina sobre a endocrinologia

Atualizado em 07/03/2021

Mulheres na medicina e na especialidade

A endocrinologia tem alma feminina. De profissionais a pacientes, nós somos maioria. Só que há muito mais além desses dois tipos de atores (ou atrizes) nessa história.

Segundo dados da pesquisa sobre demografia médica feito pela Universidade de São Paulo e Conselho Federal de Medicina, publicada no final de 2020, dos quase 6.000 endocrinologistas, 70,6% são do sexo feminino. Nesse mesmo levantamento, as mulheres representam 46,6% do total de médicos no Brasil. No total, não ainda somos maioria. “Ainda” porque, na última década, as mulheres são maioria entre os novos médicos registrados nos Conselhos de Medicina, consolidando a tendência de feminização da Medicina no Brasil.

Em 1910, os homens eram 77,7% e as mulheres, 22,3%. A presença masculina se amplia até 1960, quando chegou a 87%, e as mulheres se limitavam a 13%. A partir dos anos 1970, com a abertura de grande número de escolas médicas, as mulheres ampliam sua participação e passam de 15,8% em 1970 para 46,6% em 2020.

Entre as mulheres, 40% têm um ou dois vínculos, e entre os homenssão 37,1%.

Trechos retirados de Demografia Médica no Brasil – 2020

Trabalhamos bastante e temos ao nosso lado outras profissionais de saúde como ginecologistas, pediatras, nutricionistas, enfermeiras, psicólogas na prevenção, tratamento e reabilitação. Também esses profissionais são na sua maioria mulheres, salvo engano. Os serviços de cuidado com outras pessoas são essencialmente feito por mulheres.

Mesmo com algumas dificuldades, o número de mulheres empreendendo no Brasil cresce a cada ano, e essa tendência deve se manter elevada pelos próximos anos, conforme levantamento do IPGS.

As minhas e as nossas pacientes

O sexo feminino também representa a maior parte dos nossos pacientes.

Dos meus pacientes, 73% são mulheres.

Levantamento feito até março de 2021

Atendemos mulheres que trabalham (e muito) apenas dentro das suas casas e outras que trabalham dentro e fora de casa. Durante a pandemia, as multiplas jornadas do feminino se intensificaram demasiadamente. Elas têm múltiplas jornadas diárias de trabalho enquanto tentam equilibrar o que é necessário para o cuidado próprio e dos outros que delas dependem, seja financeiramente e/ou afetivamente. Vemos pontualmente ou acompanhamos essas mulheres em vários momentos de vida.

Fases da vida, gênero e endocrinologia

Mudanças hormonais e do metabolismo são uma constante na vida da mulher. Nessa travessia, podemos citar alguns exemplos em onde a endocrinologia é evocada: nos problemas de puberdade, nas alterações menstruais, processo da menopausa (que não é exatamente uma doença) e nos problemas de tireoide, mais prevalentes no sexo feminino.

Mesmo nas condições médicas que não atingem preferencialmente ou são exclusivas das mulheres, elas – mais que os homens – procuram ajuda médica mais precocemente e frequentemente. Podemos citar como exemplos quadros de diabetes, sobrepeso e obesidade.

Questões de gênero também permeiam a endocrinologia. As equipes que atuam no cuidado com mulheres transexuais devem ter esses especialistas no seu quadro para o manejo hormonal que se faz necessário.

Visão mais ampla

Depois dessa breve introdução sobre a endocrinologia, saio pouco da especialidade para ampliar o olhar sobre as demais mulheres do cotidiano profissional e pessoal. Dessa forma, presto uma pequena homenagem às mulheres admiráveis que interagem umas com as outras e tornam a vida mais leve e o trabalho mais fácil.

Do meu lugar é que eu posso falar sem errar muito (eu acho), por isso vou listar algumas personagens importantes que me influenciam, inspiram e apoiam.

Dentro e fora da saúde

Fico feliz e grata em ver e contar com o apoio de outras mulheres da mesma especialidade em diversas necessidades, seja nos desabafos, opiniões, incentivos, discussões de casos, compartilhamento de angústias profissionais, troca de informação e conhecimentos.

Não posso esquecer de citar a importância das mulheres na área da saúde e outra áreas de conhecimento que ampliam o nosso olhar sobre o ser humano, objeto do nosso trabalho. São advogadas, educadoras físicas, professoras, assistentes sociais, artistas, jornalistas, blogueiras, líderes religiosas etc etc etc… a lista é grande.

Meus seguidores

A mulherada também é maioria entre os seguidores das minhas redes sociais. No instagram, nesse momento, elas representam quase 82% do total de seguidores.

Distribuição por gênero dos seguidores do instagram

Na página do Facebook, também não é diferente: 84% dos seguidores são do sexo feminino.

Equipe de suporte

Por último, mas não menos importante, gostaria de lembrar e agradecer às mulheres cujo trabalho é fundamental para o nosso. Para que eu ou qualquer mulher e desempenhe seus diversos papéis na sociedade, houve, há e haverá suporte de outras mulheres – disso eu não tenho dúvidas. Quem não se lembra da sua própria mãe nesse dia? Não sei como a minha mãe com nove filhos deu conta do recado.

No meu caso, uma equipe feminina está ao meu lado: a secretária, as recepcionistas, a ajudante dos serviços domésticos, minha irmã, amigas, outras mães (ai, que medo de esquecer alguém). Elas me dão do apoio corriqueiro ao excepcional para a “Suzana endocrinologista” e a “mãe da Helena”, por exemplo.

Desigualdades? Sim, nós temos!

Admiro toda e qualquer mulher que faz diferença com seu trabalho, seja formal ou informal, socialmente reconhecido ou não. Imagino sua rotina e dificuldades.

Para as que estão no mercado de trabalho historicamente desigual, minha solidadariedade e desejo de dias melhores para nós. Esse é um fenômeno que atinge inclusive a medicina. Na nossa profissão, quase 80% das mulheres estão concentradas nas três categorias de menor remuneração.

Fonte – Jornal da USP 2019 (ref 2)

Além disso, os homens ainda são maioria em 36 das 55 especialidades médicas, conforme o estudo Demografia Médica mais recente.

Limitações e desejos

Como deu para você perceber, mesmo que eu quisesse falar só apenas da especialidade ou da parte profissional, correria o risco de ser demasiadamente injusta. Não sei se isso foi uma limitação ou não para o texto, mas acontece que muitas mulheres são de importantes a fudamentais, sendo que algumas são mais visíveis, outras nem tanto.

Durante a produção do texto, muitos rostos femininos me vieram à mente. Espero que algumas dessas mulheres se reconheçam nas minhas palavras. Muito obrigada em dividir seus dons e talentos; compartilhar comigo seus conhecimentos; oferecer seus cuidados e amizade; confiar-me seus problemas de saúde e prestigiar o meu trabalho.

Para todas as mulheres, desejo que tenham um excelente dia internacional da mulher. Que seja um dia de descanso, reflexão, ação, reinvidicação ou do jeitinho que mais desejarem. Para os homens, desejo que sejam nossos parceiros na luta pela igualdade de gênero.

Feliz Dia Intenacional da Mulher!

Referências

  1. Demografia Médica no Brasil 2020
  2. Estudo quantifica abismo salarial entre homens e mulheres na medicina – Jornal da USP 2019
  3. Mainardi GM, Cassenote AJF, Guilloux AGA, et alWhat explains wage differences between male and female Brazilian physicians? A cross-sectional nationwide studyBMJ Open 2019;9:e023811. doi: 10.1136/bmjopen-2018-023811

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Espero ver você mais vezes!

Um forte abraço,

Suzana

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