Atualizado em 06/11/19
REMISSÃO DO DIABETES
Hábitos saudáveis e estilo de vida que reúnam dieta e atividade física para obtenção de perda de peso são importantes para o controle do diabetes. Isso já é bem sabido. Agora o que se fala pouco é mais que auxiliarem no controle, a perda de peso levar à remissão do diabetes tipo 2 em alguns casos.
Muito se fala sobre o diabetes tipo 2 não ter cura e sobre a necessidade de sempre utilizar medicação para manter sob controle a glicemia. O estudo DiRECT, publicado na revista Lancet vem para quebrar um paradigma de que não apenas a doença possa ser controlada como ter sua remissão, isto é, ter os níveis de glicemia normalizados sem medicação.
ESTUDO DIRECT
Cerca de 1500 participantes em potencial foram convidados a participar do estudo, dos quais um terço deles concordaram em participar e um quinto dos indivíduos foram incluídos no estudo. Um programa alimentar e de atividade física foi foi prescrito para 149 pessoas com diabetes tipo 2 em uso de hipoglicemiante oral e com diagnóstico de diabetes nos últimos 6 anos e comparados ao mesmo número de indivíduos que não fizeram o plano estruturado de redução de peso. A HbA1c de base foi de 7,7 % no grupo de intervenção (dieta low carb, low calorie) e 7,5% do grupo controle, respectivamente. O IMC dos dois grupos era de aproximadamente 35,5 kg/m2. Os pacientes estavam usando até dois hipoglicemiantes orais.
O plano alimentar foi dividido em duas fases:
A primeira fase tinha duração de 3 meses, podendo ser estendida a 5 meses, se o participante assim desejasse. Foram utilizados substitutos alimentares em todas as refeições, perfazendo um total de 825–853 kcal/dia, com a seguinte composição:
- 59% de carboidrato,
- 13% de gordura,
- 26% proteína
- 2% fibra.
A segunda fase era de reintrodução alimentar, que durou de 2 a 8 semanas e tinha a seguinte composição:
- 50% de carboidrato,
- 35% de gordura,
- 15% de proteína
Os indivíduos permaneciam num programa de visitas mensais por longo prazo para manutenção do peso perdido até um ano do início do estudo.
Todas as medicações para diabetes e hipertensão foram suspensas logo no primeiro dia de dieta.
Todos os participantes foram encorajados a manter, mas não aumentar, sua atividade física habitual durante a primeira fase da dieta com substitutos de refeição.
Estratégias de atividade física mais específicas foram iniciadas na fase de reintrodução de alimentos. Pedômetros foram disponibilizados para auxiliar os participantes a atingirem e manterem seu número máximo de atividade física, com objetivo alcançar 15.000 passos ao dia.
A remissão do diabetes foi definida como HbA1c (hemoglobina glicada) <6,5% após 2 meses de retirada dos antidiabéticos orais, do início do estudo até 12 meses. Essa remissão foi intimamente relacionada à perda de peso e atingida em 86% dos participantes que perderam pelo menos 15 quilos, conforme figura abaixo.
DISCUSSÃO
As diretrizes da ADA de 2019 no seu capítulo que aborda nutrição afirma que não há uma porcentagem ideal de macronutrientes recomendada para pessoas com diabetes, e que se deve individualizar a prescrição de dieta, observado as preferências pessoais de cada paciente.
Os benefícios das dietas pobre em carboidratos no DM2 incluem impactos nos níveis de gordura no sangue, diminuindo triglicérides e aumentando o HDL-colesterol, reduzindo ainda a circunferência abdominal e a pressão arterial.
Existe uma tendência ao uso de dietas de baixo teor de carboidrato, ou mesmo cetogênicas para controle do diabetes tipo 2, mas essas estratégias são ainda vistas com ressalvas pela comunidade acadêmica.
Pessoas que usam hipoglicemiantes orais ou insulina devem realizar o ajuste dessas medicações durante uma dieta deste tipo somada a atividades físicas adaptadas e regulares, por isso é fundamental o acompanhamento médico para ingressar nesse tipo de tratamento mais restrito. Todos os casos devem ser sempre acompanhados por médicos habilitados. Isso porque dentro do espectro da doença, existem algumas restrições a esta dieta, como, por exemplo, todas as pessoas com diabetes do tipo 1 e algumas pessoas com diabetes tipo 2 que necessitem de doses muito altas de insulina, já que não podem restringir demais os carboidratos devido ao risco de cetoacidose diabética.
CONCLUSÃO
A principal mensagem do estudo DiRECT, estudo comentado nos primeiros parágrafos, é que ele provou a remissão do diabetes tipo 2. Esse foi um estudo de vida real, com médicos generalistas e equipe multidisciplinar sem necessidade de cirurgia bariátrica ou metabólica. A chave do sucesso foi a perda de peso substancial, que reduziria a gordura no pâncreas, envolvida com mecanismo do defeito da secreção de insulina.
O diabetes tipo 2 é uma doença crônica, mas não inexoravelmente progressiva com antes pensado. Há a possibilidade de remissão da doença através perda de peso ou cirurgias e através de dietas dietas mais restritivas. Sabe-se da dificuldade em se manter essas dietas e nem sempre é necessário o uso de substitutos alimentares. Na verdade, num mundo ideal, as pessoas não necessitariam perder tanto peso controlar suas doenças e a dieta seria o menos processada possível, mas não é essa a nossa realidade.
Referências
LEAN, M. E. et al. Primary care-led weight management for remission of type 2 diabetes (DiRECT): an open-label, cluster-randomised trial. Lancet, v. 391, n. 10120, p. 541-551, 02 2018. ISSN 1474-547X.
ASSOCIATION, A. D. 5. Lifestyle Management:. Diabetes Care, v. 42, n. Suppl 1, p. S46-S60, Jan 2019. ISSN 1935-5548. Disponível em: < https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/30559231 >.
Obrigada por ter chegado até aqui!
Se você gostou da leitura, não deixe curtir e de compartilhar o conteúdo.
Para receber em primeira mão as publicações, você pode se increver no blog ou me acompanhar pelas redes sociais. Os links estão no rodapé dessa página.
Espero ver você mais vezes por aqui!
Um forte abraço,
Suzana
Você precisa fazer log in para comentar.