Quem faz dieta cetogênica monitora com frequência os corpos cetônicos. Entretanto, a monitorização dos corpos cetônicos na urina ou no sangue foi desenhada primariamente para detectar cetoacidose nos pacientes com diabetes. A cetoacidose é uma condição que pode ser fatal. Esse texto descreve um artigo que tentou verificar se um tipo de dieta cetogênica provoca cetoacidose.
Acidose e cetoacidose
O pH significa “potência de hidrogênio”. A quantidade de íons de hidrogênio (H+) em uma solução define o pH. O pH normal do sangue é neutro, variando de 7,35 a 7,45, quando as reações orgânicas acontecem de forma otimizada.
Variações extremas no pH podem ser letais, por isso há diversos mecanismos que garantem o equilíbrio entre ácidos e bases ou equilíbrio ácido-básico (FIg 1).

Um ácido é uma molécula capaz de doar íons de hidrogênio (próton) e uma base é uma molécula capaz de receber prótons. Os corpos cetônicos são compostos ácidos e têm o potencial de diminuir o pH do sangue.
Como exemplos de acidose no sangue por aumento de corpos cetônicos (Fig 2) temos cetoacidose diabética, que é considerado uma emergência médica.
Nas dietas cetogênicas, bem como na cetoacidose diabética, há também aumento dos corpos cetônicos, porém em menor quantidade.
Uma pergunta que se pode fazer é:
Dieta cetogênica provoca cetoacidose?
Para tentar responder essa pergunta um estudo avaliou a variação do pH no sangue de 20 indivíduos submetidos a um programa de emagrecimento que incluía dieta cetogênica por quatro meses.
A dieta em questão é baseada em preparações de proteínas de alto valor biológico. Cada preparação contém:
- 15 g de proteína
- 4 g carboidratos
- 3 g de gordura
- 50 mg de ômega 3
- 90–100 kcal
Dependendo do peso ideal a ser atingido, a quantidade de sachês varia de 4 a 6 por dia. A quantidade de calorias diárias seriam de
- 600 a 800 kcal/dia
- pobre em carboidrato (<50g ao dia através da ingesta de vegetais)
- pobre em gorduras (apenas 10g de azeite de oliva por dia).
- 0,8 a 1,2 g de proteína por quilo de peso ideal.
Vários parâmetros sanguíneos foram avaliados durante o estudo.
Dos resultados principais, não foi observado diminuição o pH sanguíneo abaixo dos níveis que configuram cetoacidose. Importante destacar que pessoas com diabetes foram excluídas do estudo (Fig 3).
O ß hidroxibutirato é um dos corpos resultante da quebra da gordura foi avaliado no sangue capilar (cetonemia) feito pelos indivíduos durante suas atividades do seu dia a dia. A maioria dos valores obtidos pelas 460 medidas desse composto capilares estiveram abaixo de 3nmol/L (Fig 4).
Foram avaliadas também outras substâncias que comumente se alteram durante uma cetoacidose diabética, tais como bicarbonato, cloro, sódio, potássio e encontraram diferenças marcantes entre os valores resultantes de uma dieta cetogênica e da cetoacidose diabética.
Conclusões
Os autores concluem que a dieta de muito baixa caloria e cetogênica em questão é segura para o tratamento de obesidade.
A redução de calorias associada à atividade física são fundamentais para o tratamento da obesidade.
Essa afirmação pode ser aplicada a pessoas sem diabetes, embora o diabetes tipo 2 (principalmente o não-insulinodependente) não seja uma condição que contraindique e possa se beneficiar desse tipo de abordagem dietética.
É importante reforçar que a dieta cetogênica é contraindicada e potencialmente muito perigosa para algumas pessoas, notadamente pacientes com diabetes em uso de insulina e que estejam usando medicações que aumentam a excreção de glicose pela urina (glicosúria), pelo risco de desenvolvimento de cetoacidose. É fortemente recomendável a avaliação médica caso você queira iniciar a dieta e o acompanhamento por uma equipe multiprofissional ao longo desse tipo de tratamento.
Referências
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Suzana