NOVEMBRO AZUL E DIA MUNDIAL DO DIABETES
Você sabe por que o mês de novembro foi escolhido para representar o diabetes, e especificamente o dia 14 para ser o Dia Mundial do Diabetes? A resposta é que foi o dia do nascimento do cirurgião Frederick Grant Banting (14 de novembro de 1891), um dos responsáveis pela descoberta da insulina.
Essa extraordinária descoberta é amplamente atribuída a Frederick Banting e seu colega de trabalho, Charles Best, em 1921 (a dupla Banting e Best). Mas houve mais gente (e intriga) envolvida nessa jornada para a descoberta que mudou a vida de milhares de pessoas com diabetes. Vamos conhecer um pouco dos outros pesquisadores?
ANTES DA DESCOBERTA
Alguns anos antes da descoberta da insulina, o estudante de medicina, Paul Langerhans identificou que alguns conglomerados de células anteriormente despercebidos no estudo do pâncreas ao microscópio, mas ele não sugeriu nenhuma função para tais conglomerados, que posteriormente foram batizados de ilhotas de Langerhans. Atualmente, sabemos que as células beta da ilhota pancreática são responsáveis pela produção da insulina.
Em 1900, mais uma peça do quebra cabeça é juntada Eugene Lindsay Opie, que observou degeneração das ilhotas nos casos de diabetes. Hoje, sabemos que a destruição da ilhota por anticorpos causa o diabetes tipo 1 e há deposição de proteína chamada amiloide nos casos mais avançados do diabetes tipo 2. Cinco anos depois, Ernest Henry Starling cunhou o termo “hormônio” que vem do grego: hormaein (por em movimento) para os mensageiros que são secretados diretamente no sangue pelas glândulas endócrinas, cujos transtornos são objeto de estudo de nós, endocrinologistas.
O termo insulina, do Latin: insula (ilha) foi usado pela primeira vez por Jean de Meyer 1909, considerando que essa substância era produzida nas ilhotas de Langerhans. Outro termo que aparece nos textos da descoberta foi “isletin”.
Na década anterior à descoberta, muitas tentativas por inúmeros pesquisadores foram realizadas antes dos experimentos de Banting e Best para que os extratos pancreáticos fossem utilizados na reversão da hiperglicemia e glicosúria em animais diabéticos. Os efeitos da administração desses extratos causavam muitos efeitos colaterais, como febre e abscessos dolorosos, de modo que eles foram abandonados.
PROTAGONISTAS
Agora vamos falar das quatro figuras importantes na descoberta, isolamento e purificação da insulina: Banting, Best, Macleod e Collip.
Iniciando por Frederick Banting (1891-1941), um cirurgião canadense que serviu como militar na primeira guerra mundial na França. Após a guerra, retornou ao Canadá e se interessou pelo estudo do isolamento da tal substância pancreática para o tratamento do diabetes.
Banting precisava de um local apropriado para levar a cabo suas ideias e experimentos e foi incentivado a conversar com John Macleod (1875 – 1935), bioquímico e fisiologista, chefe de um laboratório de metabolismo dos carboidratos na Universidade de Toronto. Dizem que Macleod recebeu as ideias de Banting com descrédito, já que esse tinha uma formação e produção acadêmica modesta, mas posteriormente mudou de ideia e resolveu apostar em Banting.
Para ajudá-lo nos trabalhos, Macleod apresentou a Banting ao estudante de Charles Best (1899 – 1978). Best posteriormente sucedeu Macleod como professor de fisiologia na Universidade de Toronto.
Os dois, Banting e Best, trabalharam juntos nos experimentos com cães, com muitos acertos e erros, como em qualquer pesquisa.
Vendo que os experimentos de Banting e Best tinham evoluído muito, mas que os extratos pancreáticos ainda estavam impuros, Macleod convidou para o time o bioquímico James Collip (1892-1965), que foi responsável pela purificação da insulina.
Os trabalhos de Collip permitiram a retomada do experimento com a insulina no tratamento do primeiro paciente, Leonard Thompson (1908 – 1935), fosse retomado em janeiro de 1922, já que alguns dias antes ele tinha tido uma grave reação alérgica pelo extrato pouco purificado. O resultado foi impactante, como podemos ver abaixo na figura abaixo: Leonard aos 14 anos, antes de receber insulina, e alguns meses após as injeções diárias do hormônio .
Macleod era o orientador da turma num laboratório conturbado. O papel dele na descoberta da insulina não aparece muito, mas foi atribuída a ele a interpretação de dados, a condução dos estudos clínicos e apresentação pública dos dados de Banting e Best, cruciais para o sucesso da descoberta.
PRÊMIO NOBEL
Pela descoberta da insulina, Banting e Macleod ganharam o Prêmio Nobel em 1923. Indignado com o fato de Macleod ter sido escolhido para compartilhar o prêmio com ele, Banting imediatamente anunciou que dividiria seus ganhos com Best. Macload, por sua vez, disse que dividiria o prêmio com Collip. As brigas de ego e personalidades fortes não são novidade no meio acadêmico… essa história que o diga.
No fim de 1923, a insulina foi produzida e comercializada pelos laboratórios Eli Lilly em Indianápolis.
FIM
Um artigo que fala essa história tim tim por tim tim, com as versões e visões diferentes dos protagonistas foi publicado em 2002, por Louis Rosenfeld, cujo título do artigo é “Insulin: Discovery and Controversy” (insulina: descoberta e controvérsias). O autor conclui que:
“Retrospectivamente, os quatro pesquisadores: Banting, Best, Macloeod e Collip fizeram significativas contribuições. A despeito da grande rivalidade e conflitos de personalidades, eles acharam o fator até então não identificado produzidos nas ilhotas de Langehans – a insulina – que o hormônio poderia ser extraído e purificado. Essa descoberta deu uma nova perspectiva de vida para os pacientes com diabetes tipo 1”
Intrigas e controvérsias à parte, me parece que temos que lembrar não só de Banting, mas também de Best, Macleod e Collip como descobridores da insulina. Todos eles (e cada um do seu jeito) fizeram importantes contribuições para que Leonard Thompson também entrasse para história como primeiro paciente a usar insulina.
Essa descoberta mudou a vida de Leonard e de milhares de pessoas com diabetes, além da própria Endocrinologia.
Referências
ROSENFELD, L. Insulin: discovery and controversy. Clin Chem, v. 48, n. 12, p. 2270-88, Dec 2002. ISSN 0009-9147.
The Nobel Prize in Physiology or Medicine 1923
https://revistaquestaodeciencia.com.br/artigo/2019/04/21/como-ciencia-descobriu-insulina
Obrigada por ter chegado até aqui!
Se você gostou da leitura, não deixe curtir e de compartilhar o conteúdo.
Para receber em primeira mão as publicações, você pode se increver no blog ou me acompanhar pelas redes sociais. Os links estão no rodapé dessa página.
Espero ver você mais vezes!
Um forte abraço,
Suzana
Você precisa fazer log in para comentar.