Muitos sintomas comuns como falta de energia, falta de desejo sexual, desânimo são atribuídos a uma possível falta de testosterona. Vários homens (e até mulheres) apostam no uso desse hormônio para aumentar a vitalidade em muitas esferas da vida. Mas as indicações do uso da testosterona são bem específicas e o uso indiscriminado e em doses altas pode trazer prejuizos graves à saúde. Nesta postagem, uma breve introdução sobre a fisiologia normal da produção de testosterona, sintomas típicos de deficiência hormonal, indicação e contra-indicação da testosterona em homens.
A testosterona é o principal hormônio sexual masculino. É produzido pelos testículos e responsável pelo desenvolvimento de sinais na puberdade, tais como: crescimento de pelos em face e corpo, engrossamento da voz. Além disso, é importante para libido, produção de esperma e manutenção da saúde óssea e muscular.
Alguns fatos sobre a testosterona em homens:
- A queda da testosterona vem com a idade: os níveis de testosterona geralmente caem por volta de 1% ao ano após os 30 anos, embora não seja totalmente depletados, mesmo em idades avançadas.
- A produção de testosterona pode ser prejudicada por problemas nos testículos, hipófise, ou cérebro.
- Aumento da prolactina secundária tumores ou uso de medicações podem diminuir a testosterona
- Os níveis de testosterona variam com o dia, sendo mais altos na manhã e menores à noite
- Os níveis de testosterona podem diminuir devido a exercício intenso, má nutrição, doença grave e certas medicações
- Níveis normais de testosterona variam de 300 a 1000ng/dL, dependendo da idade e laboratório utilizado
- As dosagens devem ser realizadas mais de uma vez para garantir um resultado mais acurado
- Espermograma deve ser avaliado se houver problemas de fertilidade quando testosterona baixa
- Considerar a fração livre ou biodisponível da testosterona para considerar deficiência se houver suspeita de testosterona baixa por redução na sua proteína ligadora (SHBG), comum na obesidade.

A terapia com testosterona deve ser recomendada APENAS para pacientes com hipogonadismo, caracterizados por níveis baixos de testosterona confirmados em mais de uma amostra de sangue e a presença de um dos seguintes sintomas:
- Diminuição da libido
- Disfunção erétil (inabilidade de ter ou manter ereção) e ausência de ereções espontâneas
- Queda na contagem de espermatozoides e infertilidade
- Crescimento ou dor em mamas
- Aumento da irritabilidade, dificuldade de concentração e humor deprimido
- Ondas de calor (fogachos)
Situações em que a reposição de testosterona é contra-indicada
- Câncer de próstata ou mama (confirmado ou suspeito)
- Aumento de próstata com dificuldade para urinar
- Aumento da contagem de glóbulos vermelhos no sangue
- Insuficiência cardíaca descompensada
- Apneia obstrutiva do sono não tratada
Uma vez confirmada a baixa concentração de testosterona, prosseguimos a investigação da causa.
Quais são os níveis de testosterona são considerados baixos?
A investigação dos níveis de testosterona devem seguir alguns cuidados. A coleta deve ser feita pela manhã em em jejum.
Valores de testosterona total < 300 ng/dL são consideradas baixas. Porém, se a testosterona for normal-baixa em situações onde a SHBG é baixa, como infecção obesidade ou se for normal em pacientes com sintomas e que possam ter SHBG alta, como a infeção pelo HIV, recomenda-se a dosagem da fração livre da testosterona.
Se a testosterona total muito baixa, como < 150 ng/dL, não é necessário avaliar a fração livre. Testoeterona livre abaixo de 6,5ng/dL é compatível com hipogonadismo.
Uma vez confirmados os níveis baixos de testosterona, deve-se colher espermograma se o paciente tem interesse em avaliar fertilidade.
Classificação do hipogonadismo
O segundo passo, é avaliar se o problema está nos testículos (hipogonadismo primário) ou fora deles (hipogonadismo secundário). Então, dosamos o FSH e LH. Se altos, consideramos que o problema está nos testículos.
Se FSH e LH baixos ou inapropriadamente normais (está normal quando se esperava estarem altos), o problema pode estar na hipófise. Aqui, sempre a gente dosa prolactina e se avalia o uso de medicações e se necessário, faz exame de imagem da hipófise com ressonância magnética.
O problema pode ser orgânico, em que há lesão dos tecidos, ou funcional.
Abaixo, temos algumas causas de disturbios orgânicos
Hipogonadismo primário | Hipogonadismo secundário |
Síndrome e Klinefelter (cariótipo XXY) | Tumor hipofisário ou hipotalâmico |
Criptorquidia, distrofia miotônica, anorquia | Síndrome de sobrecarga de ferro |
Quimioterapia, irradiação testicular, ordectomia | Doença hipofisária ou hipotalâmica infiltrativa ou destrutiva |
Orquite | Idiopático |
Trauma testicular, torção | |
Idade avançada |
As causas funcionais podem ser reversíveis em algumas situações. Ness categoria temos:
Hipogonadismo primário | Hipogonadismo secundário |
Medicações (inibidores da síntese de andrógenos | Hiperprolactinemia, |
Doença renal crônica avançada* | Opióides, esteroides anabolizantes, glicocorticoides |
Obesidade grave, algumas doenças do sono | |
Abuso de álcool e maconha | |
Doenças sistêmicas* | |
Deficiência nutricional/excesso de exercício | |
Insuficiência de outros órgãos (fígado, coração, pulmão) | |
Comorbidades associadas à idade avançada |
A administração de testosterona NÃO é indicada para ganho de massa muscular ou para prevenir problemas associados ao envelhecimento (anti-aging). Também não é recomendada para melhorar controle glicêmico em pacientes com diabetes.
Não há evidências fortes na literatura científica que a reposição hormonal em longo prazo possa estar associada a aumento do risco de câncer ou eventos cardiovasculares.
Há vários métodos para reposição de testosterona. A escolha do método vai depender da causa que leva à diminuição dos níveis de testosterona, preferência do paciente, custo, tolerabilidade e preocupação em relação à fertilidade.
A reposição de testosterona é segura quando bem indicada em pacientes com DEFICIÊNCIA comprovada desse hormônio.
No Brasil, existem formulações comercialmente disponíveis que são injetáveis ou transdérmicas.
Substância | formulação | via de administração | nome comercial |
Cipionato de testosterona | 200mg/2ml | intramuscular | Deposteron |
Decanoato de testosterona | 250mg/1ml | intramuscular | Durateston |
Undecilato de testosterona | 250mg/ml (ampola = 1000mg) | intramuscular | Nebido, Hormus |
Testosterona | 50mg/sachê | Transdérmico | Androgel |
Eventos adversos potenciais da reposição de testosterona
Eventos adversos em que há evidência científica |
Aumento dos glóbulos vermelhos |
Acne e pele oleosa |
Detecção de câncer de próstata subclínico |
Crescimento de câncer de próstata metastático |
Redução da produção de esperma e infertilidade |
Eventos adversos incomuns para os quais há evidencia fraca da associação com administração de testosterona |
Ginecomastia (aparecimento de mamas) |
Calvície (familial) |
Crescimento de câncer de mama |
Indução ou piora da apneia obstrutiva do sono |
Eventos adversos formulação-específica |
Injeções intramusculares |
Flutuações no humor ou libido |
Dor no local da injeção |
Aumento dos glóbulos vermelhos (especialmente em idosos) |
Episódios de tosse imediatamente à injeçãoa |
Via transdérmica |
Reações de pele no local de aplicação |
Risco potencial de transferência da testosterona para parceira ou outra pessoa que tenha contato próximo (lembrar de cobrir o local de aplicação com roupas e lavar a mãos após aplicação com água e sabão logo após administração da medicação) |
a. Possível embolização do óleo para circulação dos pulmões
O uso de outras medicações como o citrato de clomifeno, letrozol vêm sendo estudadas, porém ainda não há liberação em bula para seu uso em homens. A vantagem dessa medicação seria que não teria impacto negativo (com possível benefício) sobre a fertilidade por estimular o eixo hipófise-testículo nos casos de hipogonadismo secundário (p.ex na obesidade).
Concluindo, a terapia com testosterona deve ser feita apenas nos casos de deficiência comprovada do hormônio. Seu uso deve ser prescrito por um profissional habilitado e regularmente monitorada para que os benefícios superem o riscos.
Referências
Bendre SV, Murray PJ, Basaria S. Clomiphene Citrate Effectively Increases Testosterone in Obese, Young, Hypogonadal Men. Reprod Syst Sex Disord. 2015 Dec;4(4):155. doi: 10.4172/2161-038X.1000155. Epub 2015 Nov 13. PMID: 26844009; PMCID: PMC4734653.
Shalender Bhasin, Juan P Brito, Glenn R Cunningham, Frances J Hayes, Howard N Hodis, Alvin M Matsumoto, Peter J Snyder, Ronald S Swerdloff, Frederick C Wu, Maria A Yialamas, Testosterone Therapy in Men With Hypogonadism: An Endocrine Society Clinical Practice Guideline, The Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism, Volume 103, Issue 5, May 2018, Pages 1715–1744, https://doi.org/10.1210/jc.2018-00229
Posts relacionados
Obrigada por ter chegado até aqui!
Se você gostou da leitura, não deixe curtir e de compartilhar o conteúdo.
Para receber em primeira mão as publicações, você pode se increver no blog ou me acompanhar pelas redes sociais. Os links estão no rodapé dessa página.
Espero ver você mais vezes!
Um forte abraço,
Suzana
O botão de doação abaixo é uma forma volutária de contribuir para manutenção e apriomoramento do trabalho desse blog.
Você precisa fazer log in para comentar.