Classificação atual da obesidade
A organização mundial de saúde define obesidade como um “excesso de acúmulo de gordura que prejudica a saúde”. A endocrinologia é uma especialidade que lida com paciente com sobrepeso e obesidade todo santo dia de trabalho.
Uma das formas mais consagradas de classificar a obesidade é pelo índice de massa corporal (IMC) que divide peso sobre altura ao quadrado, mas que tem várias armadilhas e ampla variabilidade de risco individual. A gene vê, por exemplo, pessoas com boa composição corporal, no sentido de quantidade de gordura normal, mas IMC alto. O contrário também é verdadeiro. Exames como a bioimpedância corporal e a densitometria de corpo inteiro podem ajudar na determinação da gordura corporal e suas evoluções.
Classificação | IMC (kg/m2) | Risco de doença |
Magro ou baixo peso | < 18,5 | Normal ou elevado |
Eutrófico ou normal | 18,5 a 24,9 | Normal |
Sobrepeso | 25,0 a 29,9 | Pouco elevado |
Obesidade grau I | 30,0 a 34,5 | Elevado |
Obesidade grau II | 35 a 39,9 | Muito elevado |
Obesidade grau III | > 40,0 | Muitíssimo elevado |
Na população asiática, o sobrepeso pode ser definido como um IMC > 23 kg/m2 e a obesidade com IMC > 27,5 kg/m2. Acima dos 60 anos, podemos usar o IMC > 27 kg/m2 para sobrepeso, considerando que a composição corporal vai aumentando com a idade.
Nova classificação proposta para obesidade
Considerando que a normalização do IMC é coisa difícil de ser alcançada, mas a redução de 5 a 10% do peso corporal já traz inúmeros benefícios metabólicos, a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (ABESO) e a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) sugeriram uma nova classificação. Essa é uma classificação que não substitui a antiga, mas a complementa.
A porcentagem de peso reduzida considerando como ponto de partida o peso máximo alcançado na vida (excluindo-se peso na gravidez). A gente já sabe que uma redução modesta de peso de 5 a 10% já traz benefícios metabólicos e para a saúde e a perda de 5 a 15% mostrou reduzir mortalidade em estudos randomizados e controlados, que são os mais robustos do ponto de vista científico .
A ideia de colocar uma doença crônica como “controlada” não é nova, haja vista o exemplo do diabetes, que é considerado controlado quando o paciente alcança uma hemoglobina glicada de 7%, mesmo sendo acima do valor normal de referência.
Sendo assim, a nova proposta tem classifica como obesidade “reduzida” e “controlada” conforme a porcentagem de peso perdida a partir do IMC máximo.
IMC máximo | Não modificada | Obesidade reduzida | Obesidade controlada |
30-39,9 kg/m² | < 5% | 5 – 9,9% | >10% |
40-50 kg/m² | < 10% | 10 -14,9% | >15% |
Essa classificação não se aplica também a indivíduos com doenças terminais, pois não há benefício da perda de peso para eles. Ainda não se aplica para pacientes com uso crônicos de corticoide ou que tenham Síndrome de Cushing, ou àqueles que estejam usando drogas que façam ganhar peso por período curto.
A perda de peso também não pode ser involuntária, ou seja, decorrente de outros problemas de saúde que levam à perda de peso, como diabetes e hipertireoidismo descompensados.
Essa nova classificação pode ser melhorada e validada por estudos futuros antes de seu uso disseminado.
Considerações finais
O tratamento da obesidade é feito com batalhas em diversas frentes: redução calórica, atividade física, manejo dos transtornos psíquicos, quando presentes, boa qualidade de sono etc. As medicações podem ajudar, mas precisam atuar numa base que inclui toda mudança de estilo de vida, senão a perda de peso não é sustentável em longo prazo.
Considerando a dificuldade em normalizar o IMC ou a gordura corporal, para nós, endocrinologistas, já há um ganho considerável em reduzir o peso para melhorar a saúde metabólica. Essa sugestão de classificação é interessante nesse aspecto.
A gente sabe que muitos pacientes querem reduzir o peso para um número que se considera ideal, mas mesmo que isso não aconteça, temos que deixar claro que as reduções proporcionais já são uma grande vitória.
O que você achou dessa nova proposta?
Referências
- Diretriz Brasileira de Obesidade (ABESO)
- Halpern B, Mancini MC, de Melo ME, Lamounier RN, Moreira RO, Carra MK, Kyle TK, Cercato C, Boguszewski CL. Proposal of an obesity classification based on weight history: an official document by the Brazilian Society of Endocrinology and Metabolism (SBEM) and the Brazilian Society for the Study of Obesity and Metabolic Syndrome (ABESO). Arch Endocrinol Metab. 2022 Apr 28;66(2):139-151. doi: 10.20945/2359-3997000000465. Epub 2022 Apr 11. PMID: 35420271.
Você precisa fazer log in para comentar.