Qual a relação entre obesidade e câncer de mama?

Muito se fala em prevenção do câncer de mama, principalmente no mês de outubro, o famoso “Outubro Rosa”. Eu fico pensando cá com os meus botões, que na verdade o outubro rosa é uma campanha de detecção precoce, que é diferente de prevenção, pelo menos a prevenção primária que seria evitar que a doença se desenvolva. Para prevenir o câncer de mama, não podemos deixar de falar no tratamento e prevenção da obesidade. E por que isso?

Qual a relação entre obesidade e câncer de mama?

O câncer de mama é mais comum após os 50 anos de idade, que coincide com a época da menopausa.

Após a menopausa, quando os ovários param de produzir hormônios (estrógeno e progesterona), a gordura se torna a fonte mais importante de estrógeno. As mulheres obesas têm mais gordura corporal e, portanto, seus níveis de estrógeno são mais altos que as mulheres mais magras.

O aumento do estrógeno pode levar a um crescimento mais rápido de tumores de mama que têm receptores para esse hormônio na sua superfície.

O tecido gorduroso e a relação com os hormônios sexuais

O tecido gorduroso expressa as enzimas aromatase e 17β-hidroxiesteroide desidrogenase (17β-HSD). Em indivíduos obesos, há  uma conversão aumentada dos andrógenos Δ4-androstenediona (Δ4A) e testosterona (T) nos estrógenos estrona (E1) e estradiol (E2), respectivamente, pela aromatase. A 17β-HSD converte os hormônios menos biologicamente ativos Δ4A e E1 nos hormônios mais ativos T e E2, respectivamente.

A resistência à insulina reduz a SHBG e piora o quadro

Paralelamente, a obesidade leva à hiperinsulinemia secundária à resistência à ação da insulina, que por sua vez causa uma redução na síntese hepática e nos níveis circulantes de globulina ligadora de hormônios sexuais (SHBG).

O efeito combinado do aumento da formação de estrona e testosterona, juntamente com níveis reduzidos de SHBG, leva a um aumento nas frações biodisponíveis  ou livres de E2 e T que podem se chegar mais rapidamente nas células-alvo, onde se ligam a receptores de estrogênio e andrógeno.

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Figura 1. Mecanismo proposto para aumento do risco de câncer de mama e endométrio na obesidade

Os efeitos dos esteroides sexuais quando ligados aos seus receptores podem variar, dependendo dos tipos de tecido, mas em alguns tecidos (por exemplo, epitélio mamário e endométrio) eles promovem a proliferação celular e inibem a apoptose (morte celular), como observado na figura 1.

A obesidade aumenta em quanto o risco para câncer de mama?

Muitos estudos têm mostrado que sobrepeso e obesidade estão associados a um aumento de risco de câncer de mama na pós menopausa. Esse aumento do risco é principalmente visto em mulheres que fizeram terapia de reposição hormonal e para tumores que tem receptores para os hormônios estrógeno e progesterona. Essas mulheres têm história de ganho de peso na vida adulta (entre 18 e 50 a 60 anos).

A obesidade pode causar de 7 a 15% dos cânceres de mama:
– O aumento de 2 a 10 kg após a idade de 50 anos, aumenta o risco de câncer de mama em 30%
– O ganho de 25kg após os 18 anos aumentam o risco de câncer de mama em 45%.

Mas lembrando que esses hormônios eram menos modernos e por via oral. Provavelmente, o terapia hormonal transdérmica não apresente risco dessa magnitude.

Perder peso pode reduzir o risco de desenvolver câncer de mama

A perda de peso pode ter um efeito positivo na diminuição do risco de câncer.  Há estudos que avaliaram os biomarcadores modificáveis com a perda de peso. Redução significante de estradiol (E2) é vista com a redução de peso, de forma inversa, a SHGB aumenta. Isso resulta em considerável redução do estradiol livre mesmo com uma modesta perda de peso.

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Figura 2. Mecanismo pelo qual a perda de peso levaria à redução do risco de câncer de mama

Considerações finais

Apesar das campanhas maciças para o rastreamento de câncer de mama amplamente realizadas no mês de outubro, é válido reforçar que a decisão de fazer a mamografia deve ser compartilhada entre médico e paciente, pois existem alguns tipos de câncer de mamas mais indolentes (de lento crescimento) que não são tão danosos.

Sem dúvida, mais do que a realização de um exame, a prevenção passa por hábitos de vida saudáveis e controle do peso.

Referências

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