Diabetes e doença e cardiovascular: qual fator de risco priorizar no tratamento?

Em 2013 foi publicado um artigo de revisão sobre a relação da glicemia, diabetes e doença cardiovascular. A doença cardiovascular, como infarto e derrame, é reconhecida há muitos anos como principal causa de morte nos pacientes portadores de diabetes.

No passado, grandes estudos tentaram avaliar se o controle intensivo da glicemia diminuiria os eventos cardiovasculares. Os resultados foram controversos. Um dos pontos abordados pelo artigo de revisão do autor Sattar, publicado em 2013, é o resultado de metanálise (análise conjunta de vários estudos) que avaliou qual seria a medida que mais teria impacto sobre a redução dos eventos cardiovasculares. Como resultados, o controle da hipertensão, do colesterol LDL (“colesterol ruim”) foram mais importantes que o controle da HbA1c na prevenção dos eventos cardiovasculares, conforme demonstrado na figura.

impacto da pressão, dislipidemia, e glicemia na doença cardiovascular
Contribuição de cada fator de risco na diminuição dos eventos cardiovasculares.

Para a prevenção das complicações microvasculares (que afetam olho, rim e nervos) o controle da glicemia se mostra mais evidente que as complicações macrovasculares, entre elas infarto e derrame.

A principal recomendação desse tópico na publicação é que o controle da pressão arterial e redução do colesterol devem ser priorizados precocemente no tratamento do diabetes.

Como esses estudos foram realizados com medicações orais mais antigas (sulfonilureias) e insulina, que têm maior risco de hipoglicemia quando comparados às medicações mais modernas, foi questionado se esses resultados se manteriam com medicações com menor risco de hipoglicemia. Embora a relação entre hipoglicemia e eventos cardiovasculares ainda não tenha sido totalmente esclarecida, a hipoglicemia pode ter sido fator que tenha minimizado o benefício do controle glicêmico na redução dos eventos cardiovasculares.

De qualquer forma, o alerta do tratamento multifatorial (pressão, colesterol e glicemia) é mais que válido. Mesmo que as medicações mais modernas como a empagliflozina e a liraglutida tenham mostrado recentemente diminuir eventos cardiovasculares, elas não estão ao alcance da maior parte da população. Além disso, não há dúvidas da contribuição do controle da pressão e do colesterol sobre doenças cardiovasculares.

Certamente, o controle glicêmico deve ser perseguido, sem ser às custas de aumento da frequência de hipoglicemia, mas não devem ser esquecidos o controle da pressão arterial e dos níveis de colesterol de acordo com os objetivos terapêuticos de cada paciente no tratamento individualizado.

Referências

SATTAR, N. Revisiting the links between glycaemia, diabetes and cardiovascular disease. Diabetologia, v. 56, n. 4, p. 686-95, Apr 2013. ISSN 1432-0428.

ZINMAN, B.  et al. Empagliflozin, Cardiovascular Outcomes, and Mortality in Type 2 Diabetes. N Engl J Med, v. 373, n. 22, p. 2117-28, Nov 2015. ISSN 1533-4406.

DOGGRELL, S. A. Liraglutide, a GLP-1 receptor agonist, prevents cardiovascular outcomes in patients with type 2 diabetes. Evid Based Med, Nov 2016. ISSN 1473-6810.

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Suzana

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